[FIXO] Okami

Okami é um jogo singular em quase todos os seus aspectos. Uma obra de arte e pérola dos videogames reconhecida pela crítica e por qualquer um que o tenha jogado. Há muitas coisas para falar sobre ele, então o farei por partes.

Enredo:
O jogo começa com a narrativa de como, 100 anos no passado, o lobo branco Shiranui e o guerreiro Nagi lutaram juntos para derrotar e selar Orochi, o dragão de oito cabeças, e salvar Kamiki.
Trazendo esta narrativa para o presente, uma figura misteriosa liberta Orochi que escapa após lançar uma maldição sobre a terra. Sabendo disso, Sakuya, o espírito da árvore guardiã de Kamiki invoca o espírito da grande Amaterasu para que esta possa remover a maldição lançada sobre o mundo.

A princípio, pode parecer um enredo comum, usado em muitos outros jogos, mas é o seu desenrolar que torna esse jogo único.

O jogador assume o controle de Amaretasu — que está atualmente na forma do lobo que aparece na capa do jogo — e, junto com o artista Issun parte pelo mundo para lutar contra os muitos demônios que agora andam pela terra e para combater a maldição de Orochi. A cada avanço do jogo, novos personagem e novas historias são apresentados ao jogador e cada um deles é especial e pode ajudar ou atrapalhar a missão do jogador. Muitos personagens acompanham toda a historia, como Waka, um vidente originalmente apresentado como um adversário que parece estar em todos os lugares depois de sua primeira aparição, e Suzano, um descendente de Nagi que "ajuda" a proteger Kamiki e a lutar contra Orochi.

Mais pra frente se descobre que Orochi não é o único inimigo a ser enfrentado e é aí que o jogo se torna muito mais complexo pois começam a surgir elementos que não são exatamente o que parecem ser.

É dificil falar da historia de Okami sem estragar as surpresas do jogo pois cada detalhe me parece importante. Tanto garotinho que chora em Agata Forest pois perdeu seu cachorrinho quanto a grande rainha que não sai de seu palácio para ajudar o povo guardam surpresas importantes para a historia e o prazer está em desvendar cada um deles. Devido a este pequeno problema técnico, vou deixar a historia a cargo do próprio jogo e falar de outro ponto...

A jogabilidade:

Okami é um jogo extremamente interativo e simples, podendo ser jogado por qualquer criança que saiba a diferença entre um círculo e uma linha reta. E ao mesmo tempo é um jogo desafiador para qualquer viciado em jogos não ter do que reclamar.
Com comandos extremamente simples, a única coisa mais complexa é o uso do Celestial Brush que é apresentado ao jogador logo no começo do jogo.


Como mostrado na imagem acima, o Celestial Brush usa técnicas de desenho para invocar o poder divino de Amaterasu. São 13 técnicas no total e cada uma delas tem uma função que vai desde concertar objetos quebrados a evocar vento ou desacelerar o tempo. Novas técnicas são adquiridas conforme se completa o jogo e algumas podem ser aperfeiçoadas executando-se pequenas "side-quests". O Celestial Brush pode (e deve) ser usado em qualquer momento do jogo. Servindo de inestimável ajuda nas batalhas e como uma forma de alterar de forma sutil ou radical os cenários.
A liberdade que o jogador tem em Okami é incrível. Muitas vezes eu ignorei os objetivos do jogo por algum tempo apenas para correr ou fazer pequenas "boas ações" para coletar Praise, o que rendeu horas de diversão despretensiosa.
Praise é a forma que se tem no jogo de melhorar alguns dos atributos da Amaterasu (como a quantidade de tinta que se tem disponível para o uso do Celestial Brush, por exemplo) e é adquirido conforme se ajuda pessoas ou animais existentes nos diversos cenários. Graças a isso, Okami pode ser um dos poucos jogos que passa uma mensagem diferente de que saquear a casa das pessoas enquanto elas jantam é algo normal. Você realmente ajuda as pessoas em Okami. Seja resgatando o coelhinho perdido de um viajante, matando os demônios que atormentam uma região ou provando pra irmã de uma garotinha que milagres acontecem.

O sistema de batalhas também é simples. Na esmagadora maioria das vezes os inimigos são demônios que vagam pelos cenário presos mo que parecem pergaminhos voadores. É possivel evitar a maioria das lutas para quem não gosta dessa parte ou persegui-las constantemente. Vai de cada jogador.


Existem poucos "chefes" neste jogo e cada um deles pode ser facilmente derrotado a partir do momento em que o jogador descobre seu ponto fraco. Não é difícil. O jogo dá indícios logo no início da batalha ou um pouco antes dela. Muitos dos "inimigos comuns" encontrados pelo cenário também passam a apresentar certas vulnerabilidades que tendem a seguir linhas extremamente lógicas e instintivas (tudo o que voa é sensível a vento forte, por exemplo). O uso do Celestial Brush é sempre bem vindo.
Há ainda o sistema de Demon Fangs que são itens ganhos quando se derrota o inimigo de formas especificas ou se executa algumas técnicas durante a batalha. As Demon Fangs podem ser usadas para compra de itens que podem se provar muito úteis no jogo.

Existem ainda muitos puzzels com regras próprias dos quais eu poderia falar extensamente, mas além de não ser esta a idéia do post, eu teria que vender minha alma pra conseguir falar deles sem dar spoiler (eu juro que quero muito contar cada parte do jogo, mas eu não vou!).

Vamos então a outro aspecto tão importante e bem tratado como os dois anteriores:

A arte de Okami:

Nessa parte do tópico, vou falar de duas coisas: o visual do jogo e a sonoplastia.
Primeiro o visual...


Já deu pra notas pelas poucas imagens que a influência japonesa é forte. E isso é aproveitado ao extremo no jogo. Okami transborda cultura japonesa. Na historia onde vários personagens e situações do folclore de lá aparecem, nas músicas (falarei adiante), nos nomes dos personagens, nos inimigos e, principalmente, no visual do jogo.
Completamente inspirado nas antigas pinturas nipônicas, Okami cai do céu com gráficos completamente desenhados. Traços grossos e fluidos, cores que parecem feitas com tintas aquareladas. O cenário literalmente aparece conforme você se aproxima dele. Os objetos apareecem ao longe primeiro como contornos, depois como desenhos em preto e branco (onde branco na verdade é a cor dominante vigente na tela) e apenas quando você já está perto que vem as cores e texturas.

Os personagens são outro trabalho excepcional. Não há dois personagens iguais em Okami. Diferente de alguns jogos em que as pessoas "de figuração" tem seus desenhos, gráficos, sprites ou o que quer que se aplique no jogo em questão reaproveitados para economizar tempo, trabalho e/ou dinheiro, em Okami cada personagem tem sua individualidade marcada. Sejam eles meros trabalhadores do campo, mercadores de esquina ou soldados. Nenhum deles precisa ser importante, muitos tem apenas uma fala pré programada e inútil que só muda duas ou tez vezes no jogo inteiro, mas cada um é diferente de todos os outros.

Os próprios animais tem pequenas sutilezas. Em uma parte do jogo, você tem que encontrar um coelho específico que é identificado por ter manchas marrons num cenário onde quase todos os outros são brancos. Eu certamente vi mais de 5 tipos de pássaros em Okami e uns 6 tipos diferentes de cachorros.
Até mesmo a simples ação de caminhar pelo cenário é um grande espetáculo pois Amaterasu é uma divindade afinal Correr pelo cenário significa deixar um rastro de flores e plantas que muda conforme o terreno que você está, se você pula ou não... Podem ser flores, grama, folhas secas, flocos de neve.
Não raramente, pode-se observar no céu linhas que fluem em loops demonstrando o vento. (e você ainda pode mudar ou intensificar isso imitando esses desenhos com o Celestial Brush).

Detalhes, detalhes e mais detalhes... Fecho meus olhos e relembro com prazer cada um deles pois o conjunto é um dos mais belos e marcantes que eu já vi na vida. Nada foi feito com desleixo em Okami.

A música de Okami é outro ponto que renderia grandes discussões, mas minha habilidade em descrever sons não é tão boa. Começo dizendo apenas que a OST do jogo rendeu ao todo 5 CDs.
Cinco!.

No decorrer do jogo, devo dizer que elas são muito presentes. Eu mesma me peguei voltando a determinados cenários e deixava o jogo parado lá apenas para ficar ouvindo as musicas enquanto fazia outras coisas em casa. As músicas são simplesmente lindas e sublimes. São impecáveis em sua função que é arrebatar por completo o jogador na parte emotiva da história. Pelo menos para mim, em momento algum foram cansativas. Tranqüilizantes, empolgantes e divertidas, mas jamais cansativas.

A sonoplastia no final do jogo (do qual eu apenas direi uma coisa: é lindo!) quase me levou ás lágrimas.

Mas não só as músicas propriamente ditas são bem colocadas. Os sons do ambiente também se fazem presente e muito. O som da água caindo, da chuva, do crepitar do fogo, dos pássaros, do próprio lobo com o qual você está jogando afinal. Novamente, Okami é um jogo de detalhes e nada foi esquecido.

Vou parar por aqui deixando um vídeo que, embora com péssima qualidade ilustra bem o que eu disse sobre a arte do jogo:


Consideraçõs finais:
Por todos os motivos citados acima, eu recomendo Okami como um jogo para todos os gostos, mas tenho que avisar duas coisas:

Eu tive aproximadamente 65 horas de jogo, não me arrependo de nenhuma delas e teria jogado muitas mais se não tivesse compulsivamente feito tudo o que havia para ser feito no jogo. Quando ele acabou eu... Quase entrei em depressão pois não encontrei absolutamente nada que se equiparasse. Talvez isso tenha sido um problema com o qual outras pessoas saibam lidar melhor, mas até hoje eu não encontrei algo que chegasse perto de Okami. (Posso até mesmo dizer que Chrono Trigger seja um jogo melhor, embora comparar um jogo de SNes com um de PS2 seja covardia, mas isso é outra historia). Até hoje, e provavelmente por muito tempo ainda, eu digo que sou uma órfã de Okami. Poucos jogos são tão completos.

A segunda coisa... Eu não poderia terminar esse artigo sem falar do únco grande defeito de Okami: as vozes.
Não há uma dublagem no jogo (seria um gasto monstruoso de dinheiro com tantos personagens). No lugar dela, há algo semelhante a um sintetizador de voz que gera barulhos estranhos que mimetizam entonação. No começo do jogo isso é absolutamente irritante e faz você querer desligar o jogo e se enforcar com o fio do controle... Com o tempo dá pra acostumar... No final do jogo, eu tava tão apaixonada que chegava a considerar bonitinho.
Mas errrrr.... Eu avisei.

Bom... Aqui encerro meu tópico perguntando por que ninguem nunca havia falado deste jogo antes.
Espero que tenham gostado.