O sol tinha nascido em Hilian. A neve nas ruas e nos parapeitos das janelas tinha começado a derreter, e o grande Castelo de Fogo brilhava, mais alto que todas as construções, parecendo ser feito de pérolas ao ser tocado gentilmente pelos primeiros raios de sol. Maria timidamente abriu as janelas de sua casa, deixando o ar frio da manhã entrar, observando a névoa começar a desaparecer, as flores respirarem fundo e os pássaros acordarem, os pios quebrando o silêncio completo.
Maria respirou fundo, sentindo o ar frio encher seus pulmões enquanto a chaleira apitava e a água fervia. A criada não tinha tido muitas coisas para fazer desde a ausência de seu amo, Arthur. Aliás, desde que o cavaleiro tinha desaparecido Maria tinha tido mais tempo para si mesma; tinha engordado e não se cansava tão freqüentemente, e não precisava andar por aí carregando ataduras para cuidar dos ferimentos quase freqüentes de Arthur. Suas bochechas estavam coradas e seus cabelos pareciam mais brilhantes. Não era mais uma figura magricela que despertava pena, Maria se sentia bonita. E era.
Quando tinha conhecido Arthur? Oh, claro. Ele a comprara daquele mercador de escravos. Maria mal tinha virado moça, e Arthur ainda não era homem. A primeira coisa que achou foi que ele provavelmente era filho de um nobre que precisava de uma criada, ou um ladrão que queria uma mulher para se passar por adulto, descobrir os prazeres da carne, talvez...? Esses prazeres Maria tinha experimentado há muito tempo, a força, e não tinha gostado.
Mas Arthur não era filho de nobre (como poderia, com aquelas roupas surradas?), nem um ladrão (era honesto, não resistia a tentar ir pelo caminho mais fácil, mas era honesto). Era ainda um escudeiro, na época. Muito atrapalhado, ainda não tinha atingido a maioridade e não podia se tornar cavaleiro. “Eu gostei de você”, disse o garoto quando Maria perguntou por que ele a comprara. Arthur nunca lhe fizera mal, nem tocara onde não devia, mas a criada teve muito trabalho daquele dia em diante: ele sobrevivia de pão e água e era horrível em trabalhos domésticos. Além disso, tinha uma péssima higiene, precisou de um bom cascudo para aceitar tomar banhos em intervalos aceitáveis.
Mas eles eram amigos. Ou Maria achava que eram. O cavaleiro nunca tinha levantado a voz para ela e lhe comprava coisas bonitas, quando tinha dinheiro. Os dois moravam em uma casa nos arredores do Castelo de Fogo. Há anos o Reino de Hilian e o Reino de Tridness estavam em guerra. O campo de batalha tinha sido Coridia, um reino minúsculo. Os nobres de Coridia pagaram por proteção e se instalarem no Castelo de Fogo, apesar de que alguns preferiram ficar em Tridness e foram para o Palácio da Torrente. No final das contas, a guerra havia gerado uma rivalidade não só entre os habitantes de Tridness e de Hillian, mas também entre os nobres de Coridia. Os habitantes do reino menor não podiam rivalizar com ninguém: a maioria já tinha virado cinzas graças às chamas dos Bruxos Infernais.
Falando em bruxos, Maria se lembrava muito bem porque Arthur tinha saído de Hillian. Dizia que estava em uma missão, mas não estava: tinha se aliado a dois bruxos. Jinx, a Bruxa do Azar (Maria não gostava nada dela, sempre onde ela passava as coisas insistiam em quebrar, e ela parecia adorar matar tempo na cozinha, além de seu hábito irritante de se aproximar demais de Arthur) e Aure, o Bruxo do Caos. O segundo, em uma das poucas mensagens de Arthur, tinha levado alguma bronca de uma tal Bruxa do Abismo , e fora castigado. Maria tinha achado bem-feito, aquele garoto era pequeno, mas tinha uma língua afiada e sempre arranjava um modo de salientar os defeitos dela ou de Arthur.
A chaleira apitou por uma última vez, indicando que se Maria não agisse rapidamente, a água iria evaporar e a chaleira ia rir de sua cara. Não que chaleiras possam rir.
Mas Maria não iria se dignar a olhar para a chaleira, pois estava prestando atenção na figura ao longe, a armadura prateada brilhando como uma estrela, o sol fazia uma auréola em seus cabelos louros. E ele acenava para ela, com um grande sorriso enorme na face, que parecia mais velha do que realmente era graças a todas as lutas e preocupações. Ainda assim, Arthur era um homem bonito, isso era inegável. Maria torceu uma mecha do cabelo com os dedos e continuou a encarar a figura.
O sol finalmente tinha acabado de nascer.
Comentários do Autor:
Eu tenho o maior número de fics dessa área do fórum. Se ajoelhem.
Agora.
-n
OK, eu perdi metade do meu talento inexistente depois que outra das minhas redações foram recusadas na escola, isso é um fato, mas quem me chamar de Stephenie Mayer apanha, falomesmo. u_u