- Lily escreveu:
- É, agora eu não entendi mesmo. O.O
*será o Coveiro a Gi?* -N
não precisa ler, e perdoe minha falta de talento pra escrever, mas esse é o jeito mais completo pra entender
Era uma vez, um garoto não muito estranho, mas também não muito normal. Ele já havia visto muitos céus, pisado em muitas terras, falado com muitas pessoas e se apaixonado por algumas. Esse garoto era pálido demais para ser real, e seu cabelo desproporcionalmente preto ajudava ainda mais a o fazer parecer mais cinza, e se não fossem algumas espinhas no seu rosto talvez pudessem ver através dele. Ele não era muito magro, como também não era muito gordo, do mesmo jeito não era pobre, mas também não era rico, mas também não era muitas coisas que gostaria de ser, e era algumas que queria deixar de ser.
Esse garoto parecia ser extrovertido olhado pelos outros, mas quase nunca se abria, o quando o fazia era apenas com uma pessoa, a única que confiava para isso. Não tinha namorado muitas vezes nem ficado com muitas garotas, embora há uns meses tenha ficado com algumas, não quis nada mais sério, pois nenhuma o via como ele queria, e ele também não via nelas o que procurava.
Mas há alguns meses, esse garoto conheceu uma garota, e ela se encaixava perfeitamente em tudo que desejava. Era linda, embora por vezes parecesse não acreditar nisso; era inteligente, tinha diversos talentos, sabia ver com o coração e além de tudo tinha uma sensibilidade fora do comum.
O garoto, que ficava constantemente chocado durante as conversas com ela, não demorou muito a perceber que ela era a garota perfeita para ele, e antes que pudesse perceber ou evitar tinha se apaixonado.
Eles combinaram de sair muitas vezes, embora poucas tivessem dado certo, e quando davam nada demais acontecia, porque o garoto era exageradamente tímido e inútil, principalmente quando a via: falava tudo muito rápido e baixo, de modo que ninguém entendesse.
Recentemente, os dois marcaram de ir ao cinema. Tiveram que cancelar algumas vezes para não perder o costume mas numa sexta-feira tudo deu (quase) certo e puderam se encontrar. Era a primeira vez que estavam sozinhos, e o garoto, que tinha escolhido uma camisa branca e um sobretudo preto para usar, tinha muito medo de que não tivessem assuntoe ficassem simplesmente se encarando, ou nem isso. Porém, logo perdeu esse medo, pois a garota emanava uma ”aura” que conseguia faze-los conversar, e o garoto teve a leve impressão de que se fosse qualquer outra garota no mundo ia acontecer exatamente o contrário.
Entraram no cinema. Estavam sozinhos numa sala enorme, não tinha mais ninguém vendo o filme. O garoto fez uma piada, mas falou demasiado baixo e muito rápido, então nem foi ouvido. Sentaram-se um ao lado do outro, num canto da sala abandonada, e quando começaram os trailers, o garoto, muito nervoso não parava de comentar “bom filme” mesmo quando não era verdade.
O filme que foram ver falava muito sobre sexo, mas não mostrava, era um comédia bastante engraçada, mas o garoto não conseguiu rir pois estava fascinado pelas mãos da garota ao lado dele, perigosamente perto. As vezes, ela o cutucava, e sempre que isso acontecia, ele tomava um choque e sentia o forte impulso de beija-la, mas cada célula do seu corpo se retorcia de indignação por ser obrigada a conter essa vontade. Mesmo assim, ele pensou em beija-la no cinema, mas logo percebeu que seria uma grande putaria fazer isso com ela: se ela não quisesse (e provavelmente não ia querer) ele ia gerar uma situação muito desconfortavel, sem falar que ela não teria por onde sair, se o fizesse lá fora seria mais fácil para ela lhe dar o fora.
Logo que o filme terminou, os dois sairam da sala e o shopping estava ligeiramente mais cheio de que quando entraram. Mais jovens estavam andando por aí, todos diferentes do garoto, que usava uma camisa e um sobretudo, enquanto eles usavam camisetas listradas, bonés ou penteados emos e calças jeans cheias de bolsos. O garoto tinha perfeita consciencia de que, qualquer um deles, o superaria numa escala de mais de oito mil pontos em qualquer aspecto possivelmente imaginado, mas esse pensamento fez seu estomago despencar, então simplesmente abaixou a cabeça e continuou andando entre eles, com sua camisa branca e seu sobretudo.
Ela disse que queria tomar sorvete, e como sua obrigação como cavalheiro, o garoto o pagou, assim como fez com a entrada do cinema: devia isso a ela pela companhia, que certamente não estava sendo agradavel para ela. A garota quis jogar Guitar Hero, e ele a acompanhou, porém, como não sabia jogar, só conseguiu vencer (por pouco) quando foi no easy e sua adversária no extreme. Durante várias músicas, ele pensou em beija-la quando acabasse a música (não era o beijo que significava alguma coisa para ele, e sim o que isso poderia dizer para ela no lugar de palavras secas e frias), quer dizer, lá ela teria espaço pra ir embora, mas como o garoto era um inválido, não fez nada, e se odiou por isso.
Eles passearam pelo shopping, por vezes sentando e comentando das pessoas que passavam, e depois andando mais um pouco. Numa dessas “sentadas”, a mãe da garota apareceu, e ao perceber do que se tratava, o garoto assumiu um ar que normalmente causava uma boa impressão em adultos (tinha funcionado com a moça do cinema e com o pai de uma amiga encontrada no shopping durante as andanças) e achou que conseguiu, porém não conseguia se livrar da idéia de que ela o havia achado com cara de drogado, como tantos outros.
João Adriano Bastos Lao estava sentado no banco, escutando, mas não entendendo o que Giovanna Del Cistia falava ao lado dele. Às vezes chegava a murmurar alguma coisa quando se fazia uma pausa, mas não conseguia parar de pensar no quanto fora inútil no dia que se passou. Teve inúmeras oportunidades mas não aproveitou nenhuma, e agora teria com certeza menos de dez minutos com ela.
Ele a ouviu falar, enquanto ficava hipnotizado pela sua voz. Ela parecia penetrar no seu corpo, fazendo seu sangue esfriar, talvez de medo; e pelo seu cabelo, que esvoaçava lindamente toda vez que ela mexia a cabeça; sobre seus olhos, mais perfeitos do que qualquer outra coisa que já tinha visto em qualquer lugar… Mas ao invés de dizer alguma coisa desse gênero, contentou-se em encarar o chão e dizer algo incompriensivel sobre troca equivalente.
João não parava de olhar para o lado, a qualquer momento a mãe de Giovanna ia aparecer e acabar de frustrar seu dia já frustrado pela própria ignorancia, então resolveu tomar uma atitude: era algora ou nunca.
Sentiu medo. Mais medo de ferir os sentimentos dela do que de acabar tomando o fora, mas já não tinha mais escolha, num momento de insanidade, segurou o rosto da garota o mais suavemente que pode e tentou beija-la.
no momento que fez isso percebeu que foi um erro. Ela se virou rapidamente e João tentou disfarçar o movimento, mas já era tarde demais, fora derrotado. Depois disso, ela ficou mais próxima, o abraçou. O garoto ficou pensando no que aquilo significava, se era algum tipo de pedido mudo de desculpas, que ela estava dizendo “desculpa, mas não vai dar” com gestos e ele era tonto demais para perceber.
A mãe dela, como previsto logo apareceu, e após se despedirem, João se afastou o mais rápido que pode.
Tirou se sobretudo. Ele estava usando um sobretudo com uma camisa, não conseguia pensar em nada pior para se usar. Uma vontade lhe bateu, foi mais um anseio. Saiu correndo em direção a entrada. Devia estar parecendo um retardado, correndo usando uma camisa e segurando um sobretudo.
Quando finalmente saiu, viu, a uns dez metros, Giovanna e sua mãe se afastarem. Não conseguiu pensar em nada melhor pra fazer do que ficar olhando, e quando elas já não eram mais visiveis, entrou de novo e pediu para sua mãe ir lhe buscar.
Sentia-se um lixo. Menos que isso, sentia-se o lixo dos lixos, um inútil, inválido, um grande saco de bosta de morcego.Ficou andando a esmo pelo shopping. Desejou sumir no ar e nunca mais ser visto por ninguém, ou cavar um buraco e nunca mais sair de lá. Seria genial. Mas ao invés disso, recebeu uma mensagem de Giovanna: “Quando chegar em casa, entre no msn. Por favor.” , já sabia até que tipo de conversa teriam. Ela ia dizer que não é isso que estava querendo comigo e eu ia responder que nem eu, que tinha sido um momento de fraqueza que nem eu tinha entendido.
E então, quando chegou em casa, entrou no msn como prometido. Ela lhe disse para ver seu orkut, e assim o fez.
Mas antes que pudesse fazer alguma coisa, uma luz cegante queimou seus olhos e sua pele. Foi quando ele percebeu: era o fim da era dos Jozos.